Maple Bear João Pessoa

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jul 04, 2023

Ser inteligente ou ser feliz?

AUTOR

Natália Wolmer

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5 min

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É bem verdade que nós pais desejamos que nossos filhos sejam destaques, tenham melhores notas, melhores prêmios… sejam os mais inteligentes - ainda que guardemos isso em segredo. E para nos tranquilizarmos, ainda que egoicamente, estudos corroboram que indivíduos com melhores desenvolvimento cognitivo tendem a ter mais saúde, menor incidência de transtornos mentais e expectativa de vida mais longa. Podemos, então, validar esses nossos desejos e expectativas, afinal é compreensível, plena e cientificamente desejável!

Contudo, precisamos compreender que a inteligência para ser bem utilizada, precisa vir junto com boa capacidade de fazer escolhas, o que também tem relação direta com o afeto, ou seja, como eu sou emocionalmente afetado pelo outro, pelas minhas vivências. Logo, inteligência cognitiva, afeto/emoções e capacidade de tomar decisões andam juntos.

Embora a ciência ainda não domine amplamente as funções neurológicas, sabe -se que a região cerebral anterior leva mais tempo para se desenvolver. E nesta região podemos destacar o córtex pré-frontal, o qual curiosamente só estabiliza seu amadurecimento na idade adulta e tem um aumento da remodelação na adolescência. E é essa mesma região que apresenta papel importante quanto ao desenvolvimento do raciocínio para vivência social e na aprendizagem da tomada de decisão. Além de ter conexão direta com outras regiões cerebrais relacionadas com as emoções e impulsos, como a amígdala e região orbital.

Estudos mostram que crianças que vivem em ambientes com estressores crônicos podem ter o desenvolvimento das áreas frontais cerebrais alterados, ratificando a associação entre esses aspectos - cognição, emoção, capacidade de tomada de decisão.

Portanto, fica explícito que, de fato, crianças e adolescentes estão em formação e que precisam, além da capacidade cognitiva, de bons estímulos emocionais e sociais , e acima de tudo de bons exemplos- é preciso estar junto, observar, orientar, acompanhar mesmo- . E, então, conseguirão se desenvolver não só anatomicamente, mas também criar boas associações neuronais que consigam relacionar harmonicamente a inteligência, as emoções e a capacidade de tomar decisões, ou seja, de fazer boas escolhas.

Logo, devemos e podemos desejar e estimular nossos filhos para serem inteligentes, mas sem esquecermos dos aspectos sociais - os outros também importam - e emocionais - o afeto faz toda diferença para tomarmos boas decisões.

Afinal, filhos verdadeiramente inteligentes são primeiramente felizes - satisfeitos na maior parte do tempo apesar das imperfeições - deles próprios, do outro, da vida.

Autora: Natália Wolmer


Médica Psiquiatra (RQE 9079), mestre em Educação em Saúde. Docente de Medicina em Juazeiro-BA e Petrolina-PE.