Nos últimos anos, as discussões sobre desenvolvimento infantil aumentaram, e os estudos voltados para essa área ganharam destaque na vida dos pais e mães. Os marcos do desenvolvimento estabelecidos pela Sociedade Brasileira de Pediatria, com base nas diretrizes do Centers of Disease Control and Prevention (CDC), norteiam os comportamentos e habilidades que são esperados em cada faixa etária, considerando a curva típica do desenvolvimento, e muitas famílias prestam atenção à aquisição dessas habilidades.

Contudo, falar sobre a infância é assumir que não existe uma data específica para que uma habilidade surja, mas que existem janelas de tempo para que a criança atinja aquilo que é esperado para a sua faixa etária. A aprendizagem não funciona como um interruptor que nós acionamos e a luz acende, mas é um processo que ocorre de forma contínua através da repetição dos estímulos necessários para que uma habilidade seja desenvolvida.

É nesse ponto que o papel da escola brilha no desenvolvimento infantil. As nossas crianças pedem, constantemente, por estímulos. Muitas vezes, as possibilidades de brincadeiras se esgotam em casa, não porque as famílias não tenham interesse ou recursos, mas porque o brincar na escola é funcional e orientado, com objetivos muito bem definidos e planejados por toda a equipe. A concepção do papel da educação infantil também mudou ao longo do tempo. Se antes a imagem desse ensino estava atrelada somente à recreação e brincadeira, atualmente é notório que a escola, nessa fase, cumpre um papel fundamental no desenvolvimento de habilidades sociais, cognitivas e pedagógicas na infância - tudo isso através, principalmente, da brincadeira.

Nos primeiros anos de vida, a plasticidade cerebral das crianças está em pleno funcionamento. Isso significa que o cérebro está “fértil” para receber novos conhecimentos e adequá-los à vida. Com o passar dos anos, o nosso cérebro vai ficando cada vez menos maleável - é por isso que é mais difícil para nós, adultos, adquirir novas habilidades. Então, quanto mais cedo a vida escolar da criança é iniciada, mais tempo de educação infantil e estimulação ela terá. E, dessa forma, podemos aproveitar um cérebro pronto para aprender.

Na escola, junto aos pares, desenvolvemos habilidades de atenção compartilhada, tolerância à frustração, tempo de espera e autonomia e independência, entre muitas outras que são ensinadas diariamente. Suspeito que melhor do que aprender, é aprender com amigos. Então, se eu pudesse responder à pergunta “Cada criança tem seu tempo?”, eu diria que “depende” - como quase tudo na infância. Por um lado, sim, cada criança vivenciará o seu processo de aprendizagem de forma única, no momento em que o seu corpo está preparado para mudar. Por outro lado, esse tempo não é infinito, pois temos as janelas de aprendizagem proporcionadas pela plasticidade cerebral. Mas, se há algo que tenho certeza, é que a escola é responsável por estimular o potencial que as nossas crianças possuem, juntamente com as famílias.